18 de mar. de 2009

anônimo e hipócrita - não dá pra ser quando você tem opinião

Interessante observar os comentários das pessoas, quase todas anônimas, no blog A culpa é do cliente.

Antigamente era outro o rebuliço, causado pelo então fotolog Agoralascou. Mais ou menos nessa mesma época, a Zag soltou uma série de anúncios institucionais como esse, se posicionando frontalmente contra as más práticas da propaganda. Em uma das peças, havia inclusive uma confrontação direta às outras agências, com informações que davam conta de que a agência dispunha de muito mais knowhow que as outras, e que por isso os clientes não deveriam perder tempo e dinheiro. Lembro que à epoca, fui um dos que reagiu irado contra aquele aparente absurdo que era atirar contra as outras agências, os colegas e etc... Mas olhando para trás e, principalmente lendo este anúncio, vejo como estava equivocado. O que a Zag fez, não só com esses anúncios que eu julgo brilhantes, foi algo que até hoje pouquíssimas pessoas fizeram pela propaganda paraibana. A Zag deu uma lição a todo mundo, inclusive a mim, do que era o diabo do posicionamento. Quem dispunha de arsenal neurônico para compreender além das linhas, sabia que naqueles anúncios existia uma mensagem maior do que simplesmente: somos bons.

Tomei como exemplo essa história para lamentar que todo mundo leia o tal blog e que o máximo que se consiga fazer seja encher uma caixa de comentários de impropérios, piadinhas e outras sacanagens.

Não sei se existe culpa exclusiva pelos trabalhos fracos, malfeitos, feitos com desdém. Mas senti vontade de comentar quando observei que o blog apócrifo conseguiu dar uma lição de moral no mercado. Ninguém parou em nenhum momento pra avaliar nada. Apareceram alguns pra defender as peças, outros para falar do dono da agência, outros pra falar da agência, outros para pedir que se postassem peças boas ao invés de peças ruins, xingamentos ao dono do blog,saiu de tudo, menos comentários lúcidos sobre a qualidade da peça.

A minha opinião sobre a peça foi postada sob o codinome de Eitador, apenas por uma questão de constrangimento. Conheço boa parte das pessoas que participaram do trabalho e achei que seria deselegante, mas olha...acho que me arrependi. Não há o que temer quando você emite uma opinião sobre qualquer coisa desde que você embase, tenha argumentos suficientes para segurar a onda. E quanto ao que disse no comentário, é exatamente aquilo mesmo que queria dizer.

As duas peças são fracas. A primeira é quase um informecial, só que toscamente produzido. Coisa aliás que já fiz em minha carreira, já vi roteiros criados por mim naufragarem pela minha falta de inspiração, pela falta de profissionalismo do cliente, do fornecedor e da agência. Isso mesmo, a Culpa nunca é de alguém isoladamente.

A peça institucional da Tag Group tem uma arte que poderia chamar de agradável, existe aí um trabalho de direção de arte, sim. Mas Direção de Arte - perdão pela redundância, sem um texto convincente: não convence. A campanha como um todo não diz nada sobre o que é a agência. A única coisa que faz questão de frisar é a experiencia do seu dono. Aliás, legitimamente. Mas o que a Tag oferece que só ela tem? Anos de Experiência? A Real, a Oficina, a GCA, a Antares deixam-na no chinelo. Foco no planejamento estratégico? Com uma campanha institucional que não define nem os próprios atributos que se quer vender, não me parece que seja o caso.
Foco na excelência criativa? Não preciso falar sobre isso. Tomando a liberdade de dizer no que a Tag Group é diferente: Frank Ramalho e sua empresa sempre foram um reflexo entre si, desde a época em que ainda era estagiário em um pequeno escritório da Ponto D na Torre: uma empresa arrojada, eficiente, agressiva, objetiva e ao longo do tempo organizada e sólida. É isso que a Tag tem que nenhuma outra agencia, tem.

A pouquissimo tempo vi na Internet uma polêmica envolvendo a discussão entre 2 grandes publicitários brasileiros: Nizan Guanaes e Fabio Fernandes. Um defendendo um certo tipo de procedimento, outro colocando novos modelos sobre a crise. E o mercado é assim: a Tag é o que é porque quem a dirige quer que assim seja e acho que deveria sempre anunciar-se ao mercado assim. Somos bons porque somos matadores. Com a gente não tem gracinha. Nossa agência é especialista em matar job. E pronto. O que há de errado nisso? Ou será que só na Tag se mata job? Acho que a hipocrisia é que leva a criação de peças como essa de Obama, Madonna ou Amy Winehouse, seja lá qual famoso ou artifício bonitinho para não ser verdadeiro e transparente. A Tag não é sinônimo de sucesso do Obama. A Tag é, forçando muito, sinônimo de sucesso do Lula, por exemplo. Um brasileiro humilde, trabalhador e que chegou a presidente após anos de trabalho e muita insistência. A Tag mata jobs, é isso aí. O que mais há de se discutir sobre isso?

Faço questão de afirmar que o modelo de negócios vencedor da Tag Group, a mim , não parece o mais correto. Mas não sou dono da verdade. Eu, como profissional graças a Deus, ainda posso escolher onde e como trabalhar da melhor maneira. E acho que é por aí. O profissional precisa se acostumar a ter opinião, ser contra ou a favor, se expressar, tomar partido nas questões que envolvem o dia-a-dia do seu trabalho. Porque a pior coisa do mundo é estar em um lugar sem sentir paixão pelo que faz. É se aliar a má vontade, a preguiça e a leniência para se aproveitar e colocar a culpa no outro, assim como se coloca a culpa no cliente. Fazer anúncios ruins, não reclamar das condições em que se trabalha, se acomodar porque a verba é curta e o prazo apertado não são solução pra engradecimento profissional de ninguém.

ps.
É bom que se diga, aliás, que comecei a trabalhar em publicidade como estagiário de criação na Ponto D, em 2000. Logo, estava ali nos primeiros 2 anos de experiência de F. Ramalho.