a coca-cola foi criada para servir como xarope e virou ícone da indústria cultural. um incêndio no milharal criou a pipoca. ou seja, nem se importe em procurar sentido em tudo porque em um simples comando sua vida muda pra sempre
25 de out. de 2014
13. Confirma. Vale tudo, só não vale desonestidade intelectual.
Desde o início do processo eleitoral mantive minha tradicional maneira de encarar tudo o que cerca o debate político: muito ceticismo. Assim como em 2010, votei em Marina Silva no primeiro turno. No segundo turno anulei meu voto na disputa entre Serra e Dilma. Cá, no ano da graça de 2014, quando tucanos e petistas voltam a medir forças no segundo turno, estou oficialmente mudando de postura: no próximo domingo, após deixar meus vestígios no sensor biométrico das nossas incríveis urnas eletrônicas, ao invés de anular meu voto para presidente, apertarei o 13.
Votarei em Dilma Roussef mesmo sabendo que, racionalmente, o mais correto seria se abster da escolha. Mas voto em Dilma - porque diferente do que se supõe, o voto, assim como as decisões mais importantes da vida, devem ser tomadas também com o coração. Voto é razão, mas é também emoção: é uma decisão tomada a partir de valores que aprendemos e, sobretudo, da visão de mundo que compartilhamos com os nossos pares.
Meu voto é um veto, como bem pontuou Marcelo Freixo, à candidatura Aécio Neves. Como pai e cidadão, não aceito quem pressupõe a redução da maioridade penal como solução para o combate ao crime sem sequer tocar em questões como políticas de direitos humanos, educação e cultura para a juventude. Vivemos em uma sociedade que ainda tem direitos demais a garantir para nos darmos ao luxo de restringir o que quer que seja ainda mais para aqueles que mais carecem da proteção e aparato do Estado. Rechaço veementemente, um candidato que dissimula, por falta de coragem, suas reais e históricas posições sobre políticas afirmativas na área social, programas de transferências de renda e papel do estado na economia para posar como arauto de um discurso moralista baseado em uma plataforma absolutamente inócua e superficial.
Meu voto em Dilma não referenda a articulação política fisiológica que transformou um governo progressista em patrocinador de coronéis, oligarcas, ruralistas e fundamentalistas. Meu voto em Dilma não anula as minhas críticas a um tipo de desenvolvimento que prefere uma sociedade de pleno consumo a plena cidadania. Meu voto em Dilma é um voto que marca um território claro à esquerda, àquela que foi a responsável por junho de 2013. Aquela esquerda que foi violentamente reprimida em conluio entre os dois partidos que hoje estão a disputar a presidência. Aqueles jovens baderneiros que trouxeram o transporte público, a mobilidade urbana e até a reforma política à agenda da sociedade me representam.
O meu voto em Dilma não me põe em condição de superioridade a ninguém, não passa uma borracha nos votos que depositei em Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes, Lula e Marina Silva. Voto para mim não é o fim, é apenas o começo de um compromisso que não cessa nunca porque somos responsáveis. Somos nós, os responsáveis pela manutenção do regime democrático. Os avanços - e também retrocessos - do nosso país não são dádivas generosas de partidos políticos, são conquistas lavadas a suor e sangue de nossa sociedade. Voto Dilma para que ela, no planalto, jamais esqueça que a república é na rua e não no palácio.
25 de jun. de 2014
Esqueçam a Copa das Confederações!
Copa das Confederações: o torneio-início Padrão Fifa. |
Faço questão de escrever sobre a campanha dos #MeninosdoMarin na Copa só agora que as oitavas-de-final estão definidas. Em primeiro lugar, porque acredito que quem ganha Copa na primeira fase é vencedor de bolão. Depois, porque é sempre salutar ir contra a tendência natural durante uma Copa que é, a cada rodada, eleger um favorito e, em seguida, quebrar a cara com alguma zebra.
A primeira fase foi embora e, a cada entrevista coletiva, só o que se ouviu foi o #mimimi reclamando a ausência do irmão bastardo do "Fantasma de 50": o espírito da Copa das Confederações. Vou listar algumas boas razões para que você, amigo torcedor, não embarque nessa de jornalista leite com pêra:
1) Copa das Confederações é treino. Jogo é Copa.
Em 2006, o Brasil tomou no quadrado mágico. Ganhou o evento-teste em 2005 e o Parreira, que agora é auxiliar de aspone do Felipão, resolveu encenar o piloto do que anos mais tarde viria ser o Medida Certa - escalando o ataque de 200 quilogramas na Copa: Ronaldo e Adriano.
Em 2009, a Copa das Confederações na África do Sul só serviu para lançar a carreira internacional do Papai Joel. Um ano depois, já na Copa, o único feito do Dunga foi ter esculachado com a Globo, chamando o Alex Escobar de Cagão de Merda!!!
2) Acabou a surpresa.
Ok, mas encare o montar um time como "encontrar uma maneira organizada de jogar". O Brasil disputou a Copa das Confederações com um time que nem a gente tinha visto jogar, quanto mais os gringos. Esse elemento surpresa foi fundamental, mas hoje obviamente, o momento é outro: o time foi minuciosamente estudado pelos adversários. Croácia e México estão aí para não nos deixar mentir.
3) Não foi fácil.
Esse negócio de "espírito da Copa das Confederações"é sempre evocado como se a campanha do tal torneio-início-padrão-Fifa tivesse sido avassaladora, incontestável e ganha sem sustos. M.E.N.T.I.R.A.
A grande vitória contra os espanhóis escondeu a extrema dificuldade que tivemos para passar pelo Uruguai na semifinal: os caras perderam um penalti no início do jogo, empataram e quase viraram o jogo. Na jogada seguinte, o Brasil consegue um escanteio e o Paulinho faz o gol da vitória de cabeça aos 42 minutos do segundo tempo.
4) Aqui é trabalho, Felipão.
O time foi montado, mas não está funcionando na Copa. Os laterais estão encaixotados, o time só sai com ligação direta e a criação de jogadas está nos pés de apenas dois jogadores: Neymar e Oscar. Todos os adversários manjaram o Paulinho; o Hulk tá mais sem jeito em campo do que tocando guitarra no comercial da Budweiser e o Fred é o melhor atacante no estilo "é o que tem pra hoje" de todos os tempos. Ou seja, o Felipão achava que ia passar a Copa inteira distribuindo colete, gozando repórter em entrevista coletiva e ganhando jabá com a cevada da Granja Comary. Felipão, meu filho, vamos trabalhar?
26 de mai. de 2014
A Copa na Crônica do Noticiário
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Ronaldo, O fenômeno, em "Não se faz Copa com hospital." |
O Brasil - refiro-me a elite empresarial brasileira e seus fantoches (a classe política) - comprou a Copa do Mundo como a cereja do bolo de uma plataforma de relações públicas e propaganda interessada em vender ao mundo a imagem do BRASIL NOVA POTÊNCIA. A fortuna de Eike Batista na lista da Forbes, a pacificação e consequente transformação do Rio em cidade olímpica e o gigante que acordou como sexta economia do mundo são alguns exemplos de cases que ganhariam dezenas de prêmios em festivais internacionais de publicidade.
Fifa, CBF, COL (Comitê Organizador Local) e muitos dos seus interlocutores se revezaram, nos últimos sete anos, a lançar declarações no estilo morde-assopra sobre a Copa do Mundo no Brasil.
Tudo começou como um sonho.
Ricardo Teixeira primeiro garantiu que “2014 será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas.”
À medida em que o tempo foi passando…
Jerôme Valcke engrossou o tom.
Ronaldo, O fenômeno, depois de dizer que não se faz Copa com hospital, escreveu artigo dizendo que a Copa já era legado.
Depois do oba-oba ufanista e das primeiras críticas mais contundentes, a estratégia adotada foi o cinismo corporativo.
Do público nos estádios ao povo nas manifestações, ninguém mais engoliu o papo furado de legado.
Blatter disse que nunca na história…da Fifa, viu país tão atrasado quanto o Brasil.
Aos poucos, a Fifa foi tirando o seu da reta e passou a tratar diretamente com quem manda.
A CBF seguiu a mesma trilha e até o Felipão tirou os glúteos da seringa.
Há menos de 20 dias do evento ainda há estádios em construção, obras de mobilidade urbana sequer saíram do papel, o campeonato nacional está em andamento e a presença da Copa na rua é quase ZERO. Mas Ronaldo, O fenômeno, ainda encontrou tempo para chutar cachorro morto.
26 de fev. de 2014
Ratos e urubus, larguem minha fantasia.
"Qual areia na farofa
É o luxo e a pobreza"
“O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual.” A antológica frase do carnavalesco maranhense Joãosinho Trinta ajuda a compreender o país em que vivemos. Um país tão rico e diverso quanto pobre e desigual.
O carnaval nunca foi tão necessário quanto em 2014. Mas a 25 anos, quando comemorávamos o centenário da república, um desfile de escola de samba mudou para sempre o meu ponto de vista sobre o Brasil.
Em 1989, quando Joãosinho Trinta criou o enredo “Ratos e Urubus, larguem minha fantasia”, seu conterrâneo José Sarney cumpria o último ano de mandato como presidente da república e a inflação no mês do carnaval superou os 75%.
Quando Joãosinho usou a imprensa para dizer que “quem gosta de miséria é intelectual” estava brilhantemente contrapondo-se ao ardor moralista que é, historicamente, o primeiro a colocar o bloco na rua quando soam os primeiros tambores de momo. Não nos custa lembrar que foi a partir de uma crítica moralista sobre o carnaval que assistimos à ascensão e glória das mil e uma noites de fúria e delírio.
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O país do futuro chegou. "Tá com pena? Leva pra casa." |
Lá, em 89, o nordestino pobre e homossexual que chegou no Rio sonhando ser bailarino - e se tornou carnavalesco, surpreendeu a todos que esperavam mais um desfile cheio do luxo e ostentação que hoje nos são tão caros neste país dos rolezinhos. A Beija-Flor cobriu a Marquês de Sapucaí com suas alas cheias de vagabundos, mendigos e farrapos. O carnavalesco fez mais: ousou ilustrar o pai nosso de cada dia como um mendigo de braços abertos sobre a Guanabara. A alegoria foi censurada em mais uma destas ações que se repetem como farsa na história brasileira, Dom Eugênio Salles - então cardeal do Rio de Janeiro, foi à justiça para garantir que não se permitisse enxergar o Cristo mulambo.
A Beija-Flor fez um desfile épico, mas sequer venceu o carnaval daquele ano: a Imperatriz Leopoldinense foi campeã com enredo sobre a proclamação da nossa então centenária república, uma república totalmente isenta de republicanos, como diria o Millôr. Mas o povo em 1989, pasmem, fez justiça com as próprias mãos e, à revelia dos juízes e contragosto dos cardeais dentro e fora da Santa Igreja, rasgaram a lona preta que censurava o Cristo Mendigo no Desfile das Campeãs.
“Reluziu, é ouro ou lata?” perguntava o samba enredo.
De volta para um futuro tão pretérito, em 2014, teremos eleições no país da Copa. Felizmente, este país ainda é, também, o país do carnaval.
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