Chama muita atenção na MPB, a quantidade de cantoras em destaque. De Ana Carolina a Zélia Duncan, o número de boas e novas cantoras é significativo, uma fertilidade claramente menos freqüente no gênero masculino. Nem me esforço em tentar contabilizar, até porque esta não é a finalidade do texto. A quantidade de boas intérpretes femininas, aqui, me serve como parâmetro perfeito para demonstrar a qualidade do primeiro trabalho autoral da cantora e compositora paulistana,
Céu.
O disco é de uma leveza impressionante. A voz sempre suave e bem colocada de Maria do Céu Whitaker é atração principal, mesmo acompanhada de arranjos originalíssimos, de tiques e toques urbanos do
hip hop, de performances de
jazz misturadas a rodas de samba e candomblé que poderiam roubar a cena, se não fossem enquadradas por letras tão belas. Destaques, no faixa à faixa, são as canções:
Malemolência, bom exemplo do que é a diversidade do disco, começa com um canto quase declamado de samba-de-breque depois ganha um ar de modernidade, cheio se
scratches e efeitos de música eletrônica;
Rainha, com uma performance marcante, Céu faz corar de inveja a filha de Elis Regina;
10 contatos, melodia adocicada pela voz e por um dub que brinca com o tempo do mesmo jeito que a intérprete faz com a letra;
Mais um lamento, melhor canção, letra belíssima cheia de um lirismo que surpreende;
Concrete Jungle, versão bossa nova para um clássico de Bob Marley;
Bobeira, samba marcado por letra e surdo que falam alto aos ouvidos sobre a real beleza.
Céu impressiona. Fez o álbum duplo de Marisa Monte, aos meus ouvidos, parecerem mais do mesmo. Fez-me acreditar que ainda há muita originalidade escondida por aí.